sábado, 24 de abril de 2010

O parto

Quando Eva comeu a maçã, Deus, como castigo, sentenciou: parirás com dor. Assim, desde que o mundo é mundo, gostando ou não de maçã, as mulheres têm tido bebês ao embalo de cólicas fortes e contrações dolorosas. Com o advento da anestesia e a popularização do parto cesáreo, isso parece coisa do passado. Em muitos dos círculos nos quais convivo, me sinto um ser de outro mundo, ao dizer com simplicidade que ganhei meu filho através de um parto vaginal. Para uns, sou uma heroína. Outros me veem como uma selvagem que opta por algo antigo, arcaico e arriscado, abrindo mão de hora marcada, conforto, conveniência e, claro, ausência de dor.

Eu sei que esse aqui é apenas o primeiro de muitos posts que ainda quero escrever sobre o tipo de parto que escolhi. Então, neste, peço licença para não me alongar sobre questões outras que não a dor do parto vaginal, certo?
Então, como eu ia dizendo, desde que o mundo é mundo... pelo menos, desde que o meu mundo é mundo que eu sempre ouvi dizer que qualquer coisa que acontecia de ruim “só não era pior do que a dor do parto”. Na minha cabeça, sempre, sempre, o parto doía e muito. Mas minha mãe sempre dizia: “é uma dor esquecida”. Ou: “é uma dor boa”.

Se você está esperando ler que eu me enganei com a dor, sinto muito decepcionar. Dói mesmo. Dói muito. No meu caso, que, ainda por cima, tive que tomar a tal da indução (porque, embora com bolsa rompida e contrações ritmadas, o Igor estava com o cordão laçado no pescoço e ficamos com medo de ele sofrer), a dor foi uma loucura, porque estava normal, suportável e, assim que tomei a injeção, comecei a sentir umas dores duzentas vezes mais fortes!! Se, no começo, eu conversava, me abaixava, fazia força e tentava ajudar o bebê a sair, na hora da contração, depois da indução, tudo o que eu conseguia fazer era me contorcer e segurar os gritos que eu tinha vontade de dar. Isso até chegar a uns 5cm de dilatação. Daí pra frente, nem os gritos eu controlei mais. A dor era grande demais.

Mas minha mãe tinha razão. A dor não deixa lembrança alguma. E, ao contrário de todas as outras que eu já senti na vida, incluindo aí as dores emocionais, é uma dor tão feliz, tão animada, tão maravilhosa, tão especial, que, ao final do parto, olhei pro meu médico, agradeci e disse: tchau, doutor! Ano que vem, eu venho aqui fazer um escândalo maior ainda, pra ter o segundo!!

2 comentários:

  1. diz a lenda q o segundo dói menos....
    e sai mais facil...
    tomara, ne?

    amotu

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  2. Mulher, tinha UMA PESSOA saindo de dentro de ti e tu tava preocupada em não gritar? Tu é uma lady. Eu teria começado a gritar já no quinto mês.

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